quinta-feira, 2 de outubro de 2014

CRÔNICA DAS TRAVESSURAS INFANTIS

Ah, que saudades dos tempos de molecagem...
Quem não guarda na memória as travessuras de quando foi criança?
Matar aulas, correr atrás de pipas, tocar as campainhas das casas e sair correndo, soltar "bombinhas" nas varandas dos outros em plena noite, e principalmente, roubar frutas nos quintais alheios.
Pois é numa destas estripulias que se passa nossa história.
Seu Higino, senhor de pouca conversa, tido como "carrancudo" por todos do lugarejo, possuía em seu quintal, frondoso pé de morangos, que cuidava com desmedido zelo, pois da colheita dos frutos, arrecadava uns "trocadinhos", vendendo-os nas feira dominical.
Pão duro como ele só, era fato no arraial que jamais alguém havia comido um só morango sem ter de pagar por ele.
No lugarejo vivia também Huguinho e Zequinha, dois moleques travessos, que entre todas suas molecagens, a preferida era justamente invadir quintais vizinhos para roubarem frutas.
O pé de morango do sr. Higino, era alvo há muito sonhado pelos dois amigos, só que, por temer a suposta bravura do dito cujo, ainda não haviam se arriscado nesta aventura.
Num certo dia, espalhou-se a notícia no vilarejo, que a irmã do sr. Higino, que morava em cidade vizinha, havia falecido.
Huguinho e Zequinha ficaram sabendo do ocorrido, e viram neste fato, a oportunidade de finalmente invadir o quintal do "muquirana" para saborear tantos morangos quanto pudessem, pois seria certo, a ida do sr. Higino para o velório e sepultamento da irmã.
Só que no dia anterior, Zequinha, brincando de futebol, havia machucado o tornozelo, e por causa disto, fora obrigado a usar muletas.
Mesmo assim, concordaram que outra oportunidade melhor que esta, não haveria para invadir o quintal dos tão sonhados morangos do sr. Higino.
E assim programaram a aventura.
Ficaram na espreita, vigiando a hora em que o sr. Higino pegaria o onibus para a cidade onde morava a falecida.
Dito e feito, por volta do meio dia, o sr. Higino parte em sua curta viagem, e Huguinho e Zequinha partem rumo ao quintal dos morangos.
Devido à grande prática de saltadores de muros, não foi nenhum entrave para Zequinha conseguir pular o muro, mesmo estando usando as muletas.
Cada um com uma razoável sacola nas mãos, começaram logo a enche-las das cobiçadas frutas enquanto iam saboreando algumas.
Inesperadamente, o tempo se fechou e acabou caindo uma leve chuva em todo o vilarejo, embora nada tenha atrapalhado aos dois amigos encherem suas sacolas de morangos vermelhos e doces.
No dia seguinte, após o horário das aulas matinais, Zequinha, ao chegar em casa encontra seu Higino, bastante furioso em conversa com seu pai.
Um friozinho percorre sua barriga e seu coração dispara. O que teria acontecido? Não podia ser nada a respeito do roubo dos morangos, pois Huguinho e Zequinha haviam planejado tudo bem direitinho, não deixando vestígios que alguém pudesse ter visto sobre o ocorrido no dia anterior.
Acabando de chegar em casa vai logo recebendo uma reprimenda do pai:
-Com efeito em senhor José(nome do Zequinha), invadindo o quintal dos outros para roubar frutas. O que você me diz disto?
-EEUUU ???- faz de sonso Zequinha.
-O senhor mesmo, seu moleque atrevido, saiba que teu pai vai ter de me pagar caro por isto.
-Mas seu Higino, como o senhor sabe que fui eu? - pergunta Zequinha assustado.
-Eu tenho provas seu "saci-pererê" - responde seu Higino.
-O Senhor pode me mostrar a prova? -  pergunta o pai do Zequinha.
-Posso sim, é só me acompanharem. - afirma seu Higino.
Diante do fato, saem todos em direção ao quintal do seu Higino. Durante a curta caminhada, Zequinha vai tentando de tudo para ludibriar o enfurecido dono do pé de morango.
Tudo em vão. Chegam na casa do sr. Higino e vão logo para o quintal. Lá, seu Higino, mostra ao pai do Zequinha e ao dito cujo a prova irrefutável de sua travessura.
Durante a chuva que havia caído no dia da invasão do quintal, o terreno havia se encharcado e nem seria preciso ser um Sherlock Holmes para encontrar as evidências do fato em questão.
Do pé de morango, até o muro, era possível ver nitidamente no terreno, a marca de um pé e dois furos em cada lado.
Não restou nenhuma dúvida. Zequinha havia sido traído por sua muleta, e argumento nenhum conseguiria lhe salvar do castigo que seu pai lhe daria.
Combinado o valor do prejuízo com seu Higino, Zequinha voltou para casa com seu pai, onde lá, além de receber uma boa surra com uma tala de embira, foi posto de castigo por tempo indeterminado.

Obs: todos os personagens são pura ficção.

Denis Cunha
02/10/2014



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