terça-feira, 7 de outubro de 2014

CRÔNICA DA TRIBUZANA

Anos 80, meados de março, época "das águas". Chuvas torrenciais e frequentes, sendo raro o dia em que não descia um toró do céu. São 19 horas de uma terça-feira em que a chuva havia dado uma trégua. Acompanhamos o sr. Durval, homem casado, pai de família, mas um "mulherengo" assumido, tomando um taxi com destino a Pau Comprido, distrito que fica a dois quilômetros do município de Galinhas. Aproveitando a estiagem, resolve ir visitar um de seus "casos", atendendo ao chamado da mesma, que lhe informara que o marido havia saído em viagem.
De cabelos engomados, cheirando a Lancaster e vestindo seu terno de linho, segue feliz rumo aos braços e abraços da amante.
Com pouco mais de 20 minutos, chega ao seu destino. Paga o motorista do taxi, e já deixa combinado que o mesmo venha lhe buscar após três horas. Tudo acertado, o táxi faz o retorno e o sr. Durval se encaminha como quem não quer nada, em direção a moradia da infiel. Com o máximo de cuidado, e verificando a redondeza, certifica-se que não há ninguém por perto, e então aproveita para entrar na casa da dita cuja.
Já dentro do recinto, toma a amante em seus braços e antes mesmo de tacar-lhe um beijo de língua, uma conversa na rua chama a atenção da meretriz, que correndo até a janela, observa pelas venezianas, tratar-se de seu marido, que conversa com um vizinho, explicando-lhe o motivo de sua volta repentina, pois segundo ele havia esquecido seus documentos.
Em total desespero, a fulana infiel informa ao sr. Durval o ocorrido, e lhe indica a saída pelos fundos. O mesmo sem pestanejar, sai que nem um gato, ligeiro e sem ruídos, e cai no breu da noite em disparada, sem conseguir enxergar nem onde está pisando, mas isto não importa.
Em sua correria acaba caindo em uma vala cheia de água, de uma profundidade que lhe ensopa até os joelhos.
Preocupado em se afastar depressa de sua desejada alcova, nem dá importância ao fato de estar molhado.
Já bem distante, e fora de qualquer perigo, vem em seu pensamento um dilema assustador: como explicar em casa o motivo das calças molhadas? Olha para o relógio, e como já são 22 horas, sua cisma se desfaz, pois a esta hora sua esposa na certa já estaria deitada.
Tranquilamente segue andando até em casa, agradecendo a Deus, por não ter acontecido o pior.
Ao chegar, com todo cuidado destranca a porta da sala, e no escuro mesmo, pensa em ir direto ao banheiro, para trocar a roupa. Mas eis que a luz se ascende, e petrificado, seu Durval depara com sua mulher, que lhe encara de forma indagadora.
Como é comum a todos os "treteiros" sempre terem desculpas prontas para os possíveis imprevistos, seu Durval, vai logo dizendo:
-Maria, Maria, você não vai acreditar, mas olha, como chove em Pau Comprido, tanto chove de cima para baixo, como também chove de baixo para cima. Peguei um temporal lá, e hoje foi de baixo para cima a tribuzana. Vamos dormir?...
Dona Maria, meio desconfiada, acaba aceitando o veredito de seu marido.
Na manhã seguinte, seu Durval recebe a visita do taxista, que lhe cobra a viagem de retorno, embora não o tenha encontrado no local marcado.
Seu Durval paga sem reclamar, e contabiliza os prejuízos: Duas corridas de táxi, uma calça de linho encardida, e uma foda promissora não tirada.

obs.: qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

Denis Cunha
07/10/2014




Nenhum comentário:

Postar um comentário