quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

FORA DO TUBO

Lembrei-me de minha promessa
"nada pode ser como ontem..."
com o olhar perdido para a tela em branco
comecei a bocejar sem parar e acho que acabei por dormir
pois ao me dar conta não havia mais a tela em branco
não havia mais o quarto em que estava a instantes
num platô de alta montanha estava eu e a lua mais brilhante que já havia visto
e pássaros dourados voavam por sobre mim seguindo suas rotas
e cantavam não como cantam os pássaros que conhecemos
entoavam melodias de amor à noite e seus mistérios
entoavam lindos sons em gratidão aos seus ninhos
para os quais iam em bandos homogêneos
desviando minha atenção a tão belo espetáculo aéreo
senti que algo puxava a bainha da minha calça
ao olhar para baixo fui tomado de espanto e ternura
pois um pequenino, bem pequenino homenzinho
chamava-me pelo nome de batismo
e assim me falou: Denis, por acaso sabes onde estás?
com a voz tremula e indecisa lhe disse que deveria estar sonhando
num salto suave como elevado por invisíveis asas
ele parou bem em frente aos meus olhos
e o que vi além de toda a beleza de sua face
foram seus olhos verdes, do verde mais folha, mais matas, mais clorofila possíveis
deles emanavam tamanha brandura que cheguei a duvidar se realmente
algum dia eu fui capaz de amar verdadeiramente
então tornei a confirmar que achava estar sonhando
no que ele me disse: o que voce acha que é sonho querido?
sua finíssima e melódica voz e seu tratamento a mim dispensado como querido
fez minhas pernas tremerem, meus lábios secarem, minha cabeça rodopiar
e eu lhe disse com dificuldade: sonho é aquilo que não pertence à realidade habitual
então ele se aproximou ainda mais até que pudesse me tocar a face
e com suas delicadas mãos pressionando minhas bochechas ele me falou:
sou, como tudo que acabaste de ver um pequeno pedaço de sua alma
mas que na sua tão concebida concretude de sua realidae habitual
deste o nome de imaginação
estamos e estaremos sempre contigo pois és tu nosso criador
mas saiba que este estar não se condiciona à obrigação
senão puro amor, pois tudo aquilo que crias, tu presenteia com a liberdade
liberdade que sonhas na tua realidade habitual não a possuíres
deitando-me um sorriso de pura criança ou linda donzela despediu-se de mim dizendo:
agora vá, e verás que a tua tela já não está em branco
e como um sopro das asas de um beija-flor
beijou-me a face com extremo carinho e me fez voltar
à tão misteriosa realidade habitual.

Denis Cunha
03/01/2013




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