sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

DUAS LUAS

A vitória não ocorria após sangrenta batalha
não havia batalha alguma
embora houvessem vitórias todos os dias
a glória não era outorgada após premiação acadêmica
já não havia mais academias
a honra não era concedida após ato cavalheiresco
desde muito tempo não existiam mais heróis
a fama não acontecia após conclusão de obra artística
ela sempre foi intrínseca a cada um pela simples unicidade de cada um
a riqueza nunca conheceu a contabilidade
pois jamais houve mensuração entre a pluralidade
e na pluralidade residia a abundância
as dores sempre eram brandas
pois que transparentes eram os desejos
a fome era uma lembrança
visto que o alimento era a luz que o dia trazia
o governo era exercido em milhares de ministérios
por cada ancião de cada residência
e a única lei escrita em pergaminho
era a obrigatoriedade de ser alegre
para tanto havia as casas de dança
as de letras, as de música, as cênicas
e a mais amada de todas
as casas de maternidade
onde cada novo rebento significava
mais uma parte de Deus a vir trazer
um pouco mais da revelação das distantes constelações
e mais das lembranças de cada única e encantadora viagem de cada um
isto foi um pouco do que vi na terra das duas luas.
(diário de bordo: Terra Gaia, sexta-feira, 04/01/2013
comandante da nave biológica: Denis Cunha)
câmbio, desligo.





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