sábado, 5 de janeiro de 2013


GAYALÂNDIA

Oculta pelas inacessíveis montanhas geladas do himalaia
vivia a comunidade ancestral da Gayalândia
povo como todos os povos da Terra
com seus comércios, educandários, templos, penitenciárias
e tudo mais igual ao restante da humanidade
diferente apenas na única modalidade esportiva praticada:
o arremesso ao céu de pedras de cristal
onde o vencedor era quem atingia maior altura no seu lançamento
era lenda do lugar que antigo lançador de extrema força
havia conseguido arremessar tão alto sua pedra
que ela teria ultrapassado as camadas gravitacionais do planeta
e atingido alguma comunidade angelical
pois dias depois do ocorrido o cristal havia voltado das alturas
e com ele veio um maravilhoso poder de cura
que deu fim a todas as doenças e enfermidades da comunidade
se tal fato havia ocorrido não se sabe ao certo
porém o cristal mágico existia e realmente curava todas
as mazelas físicas de quem recorresse a ele
mas embora livre de doenças físicas, continuavam a existir
as piores enfermidades: dúvidas, tristeza, desencantos, crimes, traições
e todos os males da alma e do coração
esperançosos de conseguir outro arremesso fabuloso
tornava-se cada vez mais frequente campeonatos, torneios
onde talvez algum lançador conseguisse uma vez mais atingir
o lugar milagroso do cristal da cura
e de lá quem sabe trazer as curas das dores sutis
mas passavam-se os anos e arremesso nenhum conseguia tal façanha
até que uma criança, filha humilde de colonos rurais chamado Kirana destacou-se
por sua enorme força, desproporcional à sua idade e tamanho
acolhida pelos melhores treinadores da comunidade
a ela foi ensinado todas as técnicas de arremesso
como força, direção, respiração, postura corporal
e profunda concentração
animados pelo seu progresso acharam ser a hora
de incluí-la no próximo torneio, o torneio mais importante da comunidade
realizado no topo da montanha mais alta
na data marcada, a aldeia em festa subiu até o platô onde ocorreria os lançamentos
o dia era claro, o sol ameno, o céu azul sem nuvens e o vento era manso
após todo o cerimonial de abertura, com orações, discursos e música
teve início a competição
nenhum lançamento foi de fato observado com muito entusiasmo
pois todos aguardavam o momento crucial do arremesso de Kirana
chegado seu momento, todos em profunda concentração e observação
viram-no arremessar seu cristal, que subiu, subiu e foi subindo
tornando-se cada vez menos perceptível ao olhar(até mesmo os olhos de uma águia)
fazia-se neste momento um silêncio tal que era possível ouvir
as batidas dos corações de todos os presentes
até que um estrondo mais forte que um forte trovão se fez ouvir
seguido de ruídos altos feito algo que se trinca e racha a seguir
e antes que qualquer um formasse qualquer tipo de argumentação sobre o fato
o que todos presenciaram foi o céu se estilhaçando em bilhões e bilhões de pedaços
e caírem feito pingos de chuva
e antes que pudesse haver qualquer desespero ou confusão
todos os presentes, congelados pela surpresa e encantamento
testemunharam o deslumbrante mundo feito como a própria Terra
e nela puderam ver todos seus ancestrais, amigos, paixões, animais de estimação
que já haviam, como até então era costume se dizer, morrido
descrição de maior alegria, ventura, alívio e paz
jamais se teve conhecimento na comunidade de Gayalândia
aclamado como herói, semideus, Kirana abriu mão de seu merecido lugar de destaque na comunidade
e conta-se que partiu pelo mundo afora, na esperança de fazer quebrar outros pedaços do céu
e levar novas esperanças a todas as nações.

Denis Cunha
05/01/2013




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