terça-feira, 8 de janeiro de 2013

POEMA DO SILÊNCIO

Disseram-me quase em um sussurro:
escreva sobre o silêncio
em resposta ao desafio nada disse,
já fazia deste silêncio o primeiro passo  na solução da empreitada
calei a voz teimosa que insiste em ser ouvida
e esperei a chegada da madrugada
com sapatos de sola macia vaguei pela cidade
não queria nem mesmo ouvir o som dos meus passos
e vi o silêncio na claridade da iluminação das ruas
embora sentido na pele a branda brisa noturna
não havia ruídos no seu soprar
na praça da estação testemunhei o silêncio  de andarilhos a dormir
bandos de cachorros de rua perambulavam atras de comida
e seus passos eram surdos aos meus ouvidos
carros estacionados nas encostas das ruas não executavam seus giros dos motores
vi o padeiro passar apressado em sua bicicleta a entregar o pão
e o pequeno barulho era só das pedaladas que logo sumiram na distância
não havia ladainhas e rezas na igreja pois a mesma já se encontrava fechada
embora ainda ardessem retardatárias velas acessas em pagamento de promessas
porém as chamas apesar de ardentes não emitiam sons nenhum
lembrei-me então dos botequins, e após visitar alguns deles
só pude presenciar solitários alcoólatras já debruçados por sobre a mesa
em completo silêncio pelo atordoamento da bebida
e se havia algum barulho era apenas o dono do boteco já dando tratos à limpeza do local
depois de tanto andar, assentei num banco do jardim para poder descansar de tanto andar
e matutar como tornar todo este silêncio experimentado em uma obra escrita
perdido em meus pensamentos acabei por adormecer ali mesmo
sendo acordado já pelos primeiros raios do sol e os primeiros ruídos
da cidade que despertava
e sem ter chegado à conclusão sobre meu desafio
fui para casa e me atirei na cama em sono profundo
lá pelas tantas, acordando já revigorado pelas andanças da noite anterior
percebi que havia encontrado a resposta ao desafio proposto
e quando meus desafiantes me questionaram se havia conseguido escrever sobre o silêncio
mostrei-lhes meu pequeno poema:
"Quando a flor desabrocha pela manhã, não há ruído, senão perfume
Quando amigos distantes se reencontram não há palavras, senão abraços
Quando encontramos o primeiro amor romântico ainda não há juras de fidelidade,
senão  o nó na garganta e o disparar do coração
E quando a felicidade nos encontra afinal, primeiro choramos de emoção
e depois sem alaridos, nos tornamos somente um a mais na multidão
soberanos e repletos de compaixão".

Denis Cunha
08/01/2013




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