quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

MACUMBADA

Fui na macumba pra curar ziquizira
A reza era no zungu da vó Nagô
Cheguei de branco e com litro de pinga
Esta é a primeiro obrigação
Tinha muita gente lá
Gente não-faz-nada, gente fina, gente letrada
Até político tinha lá
Mãe Nagô é mãe de santa famanada
Não reza à toa não
Deu a hora e começou a pegação
Mãe Nagô puxava o nome do santo
E a gente respondia: vamos saravá...
Depois que o atabaque se calou
A dança no salão estacionou
E a cantoria congelou
Mãe Nagô chamou pras consultas
Teve namorado pedindo vaga de professora pra amada
Pra poder se casar
Teve doutor médico pedindo pra escrever legível
Fazendeiro pedindo o fim do formigueiro lá nas terras dele
Viúva nova pedindo abrandamento do fogaréu da luxúria
Baiano pedindo aposentadoria e rede nova
Pra cada pedido Mãe Nagô recitava um rol de obrigações
Chegou então a minha vez
Mãe Nagô foi logo assuntando: Ô mizinfio, quê tu qué?
Eu fui logo respondendo: Ô mãinha, quero curar quebranto de uma tristeza sem fim!!
Mãe Nagô deu uma gargalhada sem deboche e sentenciou:
-Vô cantá pra suncê uma modinha que tu deve conhecê.
-"Tristeza não têm fim, felicidade sim..."
Eu então agradeci, pedi sua benção e fui saindo de mansinho.
E fui logo pensando com meus botões: Vou procurar um pastor.

Denis Cunha
22/01/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário