Foi preciso mais de uma dúzia de cervejas para obrigarMinha tão familiar desinibição vir à tona
Também pudera, não é todo dia que dividimos
Uma mesa de bar com alguém tão conhecido
E creio eu, tão querido por todos
Eu que não gosto muito de lugar tão cheio
Naquele dia agradeci a todos os santos
Por feliz ocorrência
Apesar de estarmos dividindo a mesma mesa
Bebíamos cada qual nossas cervejas
Motivo pelo qual, após contabilizar a dúzia por mim ingerida
Tomei posse da minha descontração e por fim
Criei coragem para puxar assunto
Ele tomava sua cerveja tranquilamente e
Alheio ao mundo ao redor, fazia anotações em um bloco
Devia estar criando, devido ao seu olhar distante
E sua respiração suave
- Um brinde à vida, Chico - disse eu
- À vida...-respondeu-me com seu sorriso franco e encantador
- Chico, não quero perturbá-lo com suas anotações,
mas ficaria imensamente feliz pelo privilégio de sua opinião:
O que você acha da vida?
Ele perguntou meu nome, virou a página de seu bloco de notas
E enquanto escrevia algo nele, me respondeu com outro sorriso cativante:
- Eu não acho nada DA vida, porém acho muito mais que sonho NA vida.
Com outro sorriso gratuito e cheio de ternura
Destacou a folha do bloco, me entregou
Agradeceu pelo compartilhamento da mesa e partiu
Com passos lentos e cheios de graça
No bilhete estava escrito:
"Ao amigo Denis, um grande achado NA minha vida".
(assinado: Chico Buarque)
É, quem sabe um dia, Ele possa ler meu livro,
E descobrir o quanto já achei NA minha vida.
Denis Cunha
05/12/2014
"Roda mundo, roda gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração."
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