quarta-feira, 15 de outubro de 2014

CRÔNICA DOS FILHOS DA MÃE

Cidadezinha do interior, sem torre de celular, sem antena para internet, na verdade, com poucas opções para o lazer e a diversão, a não ser uma loja de discos de vinil, CDs e revistas, e o bar do Jaime, onde invariavelmente se reúnem pessoas de todas as classes sociais, para assistir ao futebol, ouvir boa música, e principalmente "encher a cara".
O problema sempre constante, são as confusões geradas pela mistura de pessoas com uma variedade de níveis culturais, o que rotineiramente acarreta , discussões e até mesmo brigas de fato. É bastante comum no lugarejo, encontrar nomes de famosos, devido ao fato de ficar sempre exposto na vitrine da loja musical, as propagandas dos artistas, o que contribui com a inspiração das futuras mamães.
É comum também, o constante rodízio entre os policiais da cidade, para evitar possíveis intimidades com a população, o que poderia acarretar benefícios a uns e outros.
E não fazia nem uma semana, que havia chegado na cidade um novo sargento para o comando da tropa, cujo nome é Vinicius de Moraes F. Cardozo. Policial com fama de durão, principalmente contra os "bebuns" de carteirinha.
Era domingo de carnaval, e a praça do bar do Jaime estava lotada, parecendo que toda a população estava reunida ali. E o perigo espreitava a todo o momento. Alegria, alegria, batucada a todo o vapor, e lá pelas tantas, o que se temia acabou acontecendo. Uma tremenda confusão, originada não se sabe de onde, acabou em pancadaria e arruaça.
Chamada a polícia, que imediatamente atendeu, logo foram presos os mais exaltados e brigões, e quando tudo parecia já estar sob controle, um rapaz de estatura franzina, completamente embriagado, grita pelo sargento.
-Seu Sargento, posso falar com o senhor? - interroga o rapaz.
O Sargento, já um tanto irritado, lhe pergunta o que ele quer.
-Posso me aproximar? - pergunta o bêbado.
-Ande logo e me diz o que tu quer!!!- ordena o sargento.
-O nome do senhor é Vinicius de Moraes, não é mesmo? - lhe diz o rapaz.
-É sim, porque? - responde o policial.
-Pois é, o meu é Edu Lobo...
Sem pestanejar, o sargento irritadíssimo, lhe dá ordem de prisão, e antes de qualquer explicação, lhe encaminha para o camburão, levando-o, junto dos demais detentos para a delegacia.
Devido ao horário já um pouco avançado, todos os detentos são enclausurados em uma cela, e terminam a madrugada presos que nem passarinhos.
Na manhã seguinte, após vistoria na cela, um dos soldados corre até o gabinete do sargento aflito.
-Sr. Sargento, o que é que o filho do prefeito está fazendo na cela? - pergunta o guarda.
-Filho de prefeito? De quem você está falando? - quer saber o sargento.
-O Edu Lobo sargento, ele é menino bom, sempre muito comportado! - retruca o policial.
-O nome dele é este mesmo? Achei que ele estava tirando sarro da minha cara...-lastima o sargento.
Só aí é que ele fica sabendo, do costume do lugar, de colocar nomes de artistas nas crianças recém-nascidas.
-Me lasquei!!! - resmunga o sargento.
Em seguida, o pai do Edu Lobo, adentra a delegacia, já munido com advogado e mais a mãe do garoto, e aí todos já podem imaginar o ocorrido.
Após o desenrolar do fato, é fato que, jamais houve na cidade, um comandante de polícia que tenha ficado tão pouco tempo prestando serviços num só lugar.
Enquanto se preparava para fazer sua rápida mudança, o sargento Vinicius não pode deixar de exclamar:
-Que FILHOS DA MÃE...

obs.: todos os personagens e nomes são frutos da minha imaginação.

Denis Cunha
15/10/2014




Nenhum comentário:

Postar um comentário