sábado, 18 de agosto de 2012

SOU

sou a manhã
às vezes claras e outras vezes chuvosas
quando acordo para outro dia
sou os pensamentos que me invadem
dando ordem aos meus afazeres
sou a urina que escorre
até então guardada na bexiga do ontem
sou a eletricidade que aquece meu banho
e também a toalha que me abraça fria
sou o café e a torrada
primeiro desejo do meu estômago
que também sou eu
sou a escolha da roupa a vestir
e aquele mesmo velho sapato
sou a obrigação que me expulsa
do aconchego do lar
para que eu me entregue sem escolhas
ao novo(velho) dia de trabalho
a caminho do escritório vejo
já um tanto indiferente a romaria
de tantos eus a me seguirem
já prontos a encontrarem os outros
eus seus irmãos que me esperam
para reiniciarem os barulhos
que foram calados na noite que passou
nesta hora
que todos os dias tem hora marcada
quando todos estes eus se reunem
acabo por me perder de mim mesmo
e o eu com quem tanto sonho
acaba submerso
pela rotineira babel
só voltando a dar o ar da graça
bem mais tarde quando a noite cai
e da janela do quarto em frente as estrelas do céu
pego uma vez mais a caneta e o papel

Denis Cunha
18/08/2012




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